BOLETIM TÉCNICO INFORMATIVO – OUTUBRO/1981
O Coronel Carlos Lyra e a introdução do Zebú no Estado de Alagoas,
por Teógenes Augusto de Barros
Procuramos fontes que nos fossem possível estabelecer uma idéia acerca da introdução do zebú neste Estado e, por conseguinte o início propriamente dito da criação animal em Alagoas. Dize-mos desta maneira porque — já bem nos diz Otávio Domingos que “criar é melhorar”.
A pecuária alagoana até 1915, era constituida de exemplares denominados crioulos, hoje ainda abundantes em determinados lugares.
O fenótipo destes animais era dos mais precários imagináveis. De pelagens berrantes que variavam do vermelho escuro ao chocolate, tinham as vezes também o corpo recoberto por listas mal formadas escuras em fundo amarelo. Seu aspecto fisico dava uma idéia de atrofiamento. Não apresentando precocidade, o seu rendimento econômico era quase nulo. O peso normal de um animal adulto desse tipo, era no máximo 15 arrobas.
O Dr. Humberto Lyra conta-nos que seu saudoso genitor era dos poucos que ainda acreditava no estabelecimento de uma indústria pastoril – com 10 % de lucro, do capital empregado.
Vemos, por esta afirmativa, que as condições daquela época não permitiam aventuras na arte de criar, porque a matéria prima era deficiente.
O coronel Zacarias Lyra, pai do Dr. Humberto Lyra, acreditava numa zootécnia à base de um melhoramento racial. Tinha o mesmo avançadas idéias para o nordeste, quando todos se descuravam por completo o assunto. O lema era plantar e colher.
Inspirado talvez pelo seu irmão Zacarias, o coronel Carlos Lyra, proprietário então da Usina Serra Grande, localizada em São José da Lage, foi pessoalmente conhecer centros pastoris do país, situados em Minas Gerais e Mato Grosso.
Tão entusiasmado ficou o coronel, que, em um interessante livro denominado “Notas de Viagem”, publicado em 1918, dizia entre outras coisas, o seguinte: – A publicação destas notas não têm outro intúito, senão de chamar atenção da laboriosa classe dos lavradores e criadores do norte, a cujo número me ufano de pertencer, para o probelma da pecuária até hoje tão descurado nesta parte do Brasil.
A introdução racional entre nós do legitimo gado zebú que tão esmagadoras provas de superioridade está oferecendo no Triângulo Mineiro, — afigura-se o meio prático de elevar os estados do norte ao nivel de prosperidade que devemos almejar, não somente para nós, num futuro proximo, como para as gerações que nos sucederam.
Sou, por minha parte, um convencido de que, com o restabelecimento da concorrência mundial, a nossa indústria açucareira, ainda insuficientemente aparelhada por diversos motivos e circunstâncias, terá de enfrentar uma crise talvez mais dura e prolongada que as anterioes. Devemos portanto, estar preparados para compensar o esforço que em outras épocas temos perdido com os frutos seguros e de probabilidades muito mais lisongeiras da indústria pastoril.
Meditem os homens do norte neste assunto. Especialmente os que produzem e trabalham nos campos, desde o litoral até os mais remotos sertões e estou certo acabarão concordando comigo.
É esta a minha esperança: e nem mais valioso fruto espero para a modesta propaganda a que venho dedicando desde algum tempo uma parte da minha atividade de homem do campo, habituado desde a infância a ver o aproveitamento da terra, imensa e benfadada que Deus nos concedeu, a base indiscutível e eterna da prosperidade do “Brasil”
O ex-proprietário da Usina Serra Grande tinha a visão e o bom senso que faziam dos homens sobressairem-se uns dos outros e figurar na galeria daqueles considerados úteis à sociedade. O que ele dizia, hoje vemos. O que ele sentia é a realidade dos dias atuais.
A industrialização da cana de açucar está, nos nossos dias, em situação precária, dada a fatores que determinam menor rendi- mento, maior preço e melhor mercado. E nesta época, para a cria- ção animal que os homens dos campos, agricultores e fazendeiros lançam ainda um olhar de confiança.
Mesmo que fujamos à historia, achamos que o coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra foi quem, com maior arrojo introduziu animais zebú no Estado de Alagoas.
Outros poderiam ter idéias ou consumando-as em realidade. Porém a ação marcante, dentro da técnica, coube ao inolvidável proprietário da Usina Serra Grande, que, ainda nas suas “Notas de Viagem”, dizia: “Não devo concluir estas ligeiras notas, sem pedir vênia ao leitor para registrar a tentativa que estou fazendo em prol da introdução racional desta raça previlegiada no nordeste brasileiro que nela poderá encontrar, num futuro próximo, um dos mais poderosos elementos da sua prosperidade econômica “.
A introdução inicial realizada, foi de dois reprodutores – comprados um deles por doze contos de reis, na primeira Exposição Nacional de Pecuária, em maio de 1916.
Um chamava-se “Bijou ” era da raça Guzerat e outro “Guarany”, um Nelore campeão.
Por sessenta contos mais ou menos – o coronel Carlos Lyra comprou 34 cabeças, das quais 12 machos e 22 fêmeas, lote este que posteriormente serviu de base de implantação do puro sangue zebú nas plagas alagoanas.
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