DIÁRIO DE PERNAMBUCO – 4/9/1916 – Pela Pecuária
(transcrição da notícia do jornal)
Chegada dos primeiros IRCA em Recife, PE.
A bordo do vapor Itatiba, da Companhia Lage, chegou hontem ao Recife a partida de gado de que fallamos há dias, comprada no Triangulo Mineiro pelo Sr. coronel Carlos Lyra, com destino a sua fazenda Varzea Bonita, em Alagoas: cerca de quarenta rezes, puro sangue, das raças Gouzerat e Nellori, tendo em média a idade de 2 annos e meio.
Segundo informações fornecidas pelo Sr. Reinaldo Delgado da cidade do Porto, Portugal, o navio “ITATIBA” foi construído na Escócia, pelo estaleiro R. & W. Hawthorn Leslie, de Newcastle-upon-Tyne, sendo terminado em Janeiro de 1891.
Recebeu inicialmente o nome “Mossoró”, para a Companhia Nacional de Salinas de Mossoró Assu, com registo no Rio de Janeiro. A partir de 1893 alterou o nome para “Itatiba”, agora da propriedade da Companhia Nacional de Navegação Costeira, também do Rio de Janeiro.
Era um navio pequeno com 62,50 metros de comprimento, por 9,50 metros de largura, com uma arqueação de 812 toneladas. O navio foi dado como desaparecido, depois de ter sido visto ao largo da antiga colónia portuguesa de São Tomé, em 18.04.1919.
Afora os bovinos, veio uma parelha de jumentos italianos, também puro sangue, no valor de 6 contos de réis.
Tendo partido da villa de Conquista (Minas) no dia 12 do mez findo, esse gado contava até hontem 22 dias de viagem, sendo 15 por mar, contados de Santos, onde se effectuou o embarque, até o Recife, com escala pelos portos de Rio e Victoria.
A viagem, penosa para os animaes devido à morosidade inherente à marcha d’um vapor cargueiro, correu, todavia, sem incidentes, havendo apenas a registrar o nascimento a bordo, no dia 23, da bezerrinha que figura na photographia abaixo estampada.
Por gentileza especial da “Societé”, e dos srs. capitão commandante do Porto e médico da saúde, e bem assim pela boa vontade dos agentes da companhia proprietária do navio, foi permitido que este atracasse ao cáes da praça Rio Branco, em frente à Associação Commercial, o que se effectuou às 10 horas sob a direcção do prático sr. Luiz de Souza Gomes.
O “Itatiba”, que tem por commandante o sr. capitão F. Deal, e immediato o sr. Manoel do Carmo Sampaio, foi o primeiro vapor a acostar ao cáes, em frente à cidade, inaugurando assim effectivamente o novo porto do Recife. O commandante F. Deal, em presença do sr. José Galvão, agente interino da companhia na ausencia do coronel Alberto Rebustillo, fez registrar no livro de bordo essa circunstância.
Foram passageiros do vapor, acompanhando o gado até aqui, o sr. coronel Wirmondes Martins Borges e dois irmãos seus, proprietários da fazenda Cascalho, principal vendedora do lote.
Apezar da grande massa de curiosos que se agglomerou na praça Rio Branco e adjacencias, attrahida pela novidade do primeiro navio alli acostado, o desembarque effectuou-se sem incidentes, graças ao policiamento feito no local por um piquete de cavallaria e uma pequena força de infantaria policial.
O serviço correu sob a direção do coronel Virmondes Borges, auxiliado gentilmente pelo sr. J. Moreira Filho, representante do coronel Soares Raposo, proprietário dos grandes cercados de Afogados, afóra o commandante Deal e o sr. agente da companhia, que muito concorreram para a boa ordem do mesmo.
Da praça Rio Branco foi o gado transportado para a estação do Brum, onde o esperava um comboio fretado especialmente para o seu transporte à Uzina Serra Grande, em Alagoas.
A partida do Brum, effectuou-se às 2 horas, tendo seguido em carro atrelado ao referido trem, o sr. coronel Carlos Lyra, o coronel Virmondes, o sr. Adolpho Borges e sr. Julio Borges, parente dos mesmos fazendeiros, que os acompanhou até aqui.
Pelo sr. commandante Deal foi baptisada com o nome de “Itatiba” a bezerrinha que nascera a bordo.
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